Marcenaria, renda de bilros e camisolas poveiras: conheça os artesãos que levam as artes portuguesas ao Dubai
Entre novembro e dezembro, o Pavilhão de Portugal destaca as artes ancestrais e o saber-fazer português com demonstrações ao vivo de artesãos nacionais. Esta semana, Portugal partilhou com a Expo a marcenaria, a renda de bilros de Vila do Conde e as camisolas bordadas de Póvoa de Varzim.
Técnicas de marcenaria
Pedro Cunha e Rui Pacheco, juntamente com o professor José Macedo, partiram de Paredes para o Dubai para mostrar a arte da marcenaria na exposição mundial. Juntos representam o Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e Mobiliário (CFPIMM), que tem como principal objetivo o desenvolvimento de recursos humanos para as Indústrias da Madeira e do Mobiliário.
No anfiteatro do Pavilhão de Portugal, trabalharam várias cadeiras de madeira, apresentando técnicas de estofamento, talha e de acabamento.
RENDA DE BILROS DE VILA DO CONDE
Artesã natural de Vila do Conde, Maria do Ceú Salazar começou a aprender a Renda de Bilros com apenas três anos, devido à forte ligação familiar com esta arte milenar. A sua avó, Julieta de Castro Estrela, foi fundadora da Escola de Renda de Bilros de Vila do Conde em 1919, tendo sido a primeira professora. A sua mãe e tia seguiram-lhe seus passos ao longo de mais de 40 anos, e sua irmã é a atual responsável pela escola.
“Mais do que uma tradição familiar, as rendas são verdadeira paixão. Decidi dedicar-me a tempo inteiro a esta herança cultural e, nos últimos 8 anos, tenho feito um percurso que alia o tradicional e o contemporâneo, num investimento pessoal que me deixa repleta de desafios”, diz.
A Renda de Bilros é produzida manualmente, através do cruzamento de fios de algodão, sobre o pique, que assenta numa almofada cilíndrica, com a ajuda de alfinetes e dos bilros. O pique é um cartão, onde é decalcado o desenho. Trata-se de um saber-fazer com grande variedade de pontos e de técnicas, sendo os motivos mais usados os geométricos, os marinhos e os florais.
Em Portugal, a arte da renda de bilros tem especial expressão nas zonas piscatórias do litoral, como é o caso de Vila do Conde, onde o ex-líbris remonta ao século XVI.
CAMISOLAS BORDADAS DA PÓVOA DE VARZIM
Há décadas que Maria da Luz Ferreira luta pela preservação das tradicionais camisolas poveiras. Os anos de pesquisa e prática levaram-na, inclusive, a escrever um livro para contar a história deste traje secular, muito ligado às tradições piscatórias da Póvoa de Varzim.
“Estou de coração cheio…lutei muito pela preservação desta tradição, e poder trazê-la ao público e divulgar o que é nosso é uma honra. Nas últimas décadas, houve um período em que os portugueses viam este produto como um produto pobre, do passado, mas hoje sabemos que é um produto nobre”, diz Maria da Luz.
A camisola poveira bordada é feita em lã branca de fio grosso, da zona da Serra da Estrela, denominada “lã poveira” e decorada a ponto de cruz, com motivos de inspiração diversa (escudo nacional, com coroa real; patinhos; siglas; remos cruzados; vertedouros; etc), sendo somente utilizada lã de cor preta e vermelha nos bordados.
Esta peça integrava o traje masculino de romaria e festa do pescador poveiro, cuja origem remonta ao primeiro quarteirão do século XIX. Inicialmente bordada na Póvoa pelos velhos pescadores, a tradição foi sendo adoptada pelas mães, esposas e noivas dos pescadores.